Professora Solange de Cássia Elias Passo
 

Prof.ª Solange de Cássia Elias Passos

Admissão em 01/03/1973
Aposentadoria em 28/11/1991

"Eu me sinto realmente privilegiada e sou muito grata por ter feito parte da UnB. Eu costumava dizer, quando eu saía de casa de carro e entrava na UnB, que o ar era outro, eu respirava um ar diferente de tanto que eu gostava da universidade, daquele espaço, daquela convivência, daquela relação acadêmica que eu consegui formar dentro da UnB participando de outros departamentos também, não só da Educação física, mas da Faculdade de Educação, da Faculdade de Saúde, da Faculdade de Psicologia, do Departamento de Psicologia. Então, eu me sinto privilegiada por ter feito parte da história da UnB, da história do Departamento de Educação Física da UnB. Ali eu cresci, eu me qualifiquei, eu tive contatos incríveis com professores, com alunos – os alunos eram para mim seres diferentes, eu me sentia realizada fazendo o meu trabalho com os alunos. Eu partia para o estágio supervisionado, porque o estágio era feito, eu acompanhava os meus alunos nas escolas e ali a gente estudava, a gente discutia academicamente e a gente se tornava amigos, era uma coisa muito bonita que a gente associava a parte acadêmica com a parte social. Quando não era paraninfa, eu era homenageada, isso para mim foi muito bom na minha vida, fez uma diferença muito grande na minha vida." (Trechos da entrevista concedida em 05/10/2018 ao CEMEFEF/UnB).

 

Homenagem à Professora Solange de Cássia Elias Passo

 

Alexandre Luiz Gonçalves Rezende

 

Falar sobre a Prof.a Solange significa reviver boas lembranças de uma professora que marcou a minha formação como educador e que se tornou uma amiga querida. Tive a oportunidade de participar de suas aulas nas disciplinas que versavam sobre as dimensões pedagógicas da Educação Física. Estávamos na década de 1980 e, sob sua orientação, lemos Educação Física Cuida do Corpo e Mente, O que é Educação Física? e Educação Física Humanista, livros que foram chaves na discussão sobre a crise de identidade da nossa área. Em suas aulas, as cadeiras eram colocadas em círculo, o debate das ideias era feito com o entusiasmo daqueles que queriam descobrir como poderiam contribuir para transformar o ensino da Educação Física nos mais diversos cenários institucionais. O compromisso com o reconhecimento da importância da Educação Física para o desenvolvimento infantil e de sua participação no currículo da educação básica são valores continuamente transmitidos em suas aulas.

 

Solange era uma professora que gostava de estar entre os alunos. Ao final da aula, nos reuníamos em sua sala para ver seus livros e continuar as conversas. O acesso aos materiais de estudo, naquela época, não era fácil. Mesmo assim, ela estava disposta a compartilhar seus livros e a nos estimular a ler e a enriquecer nossa formação. Essa disponibilidade também estava presente na maneira atenta e acolhedora com que ela ouvia nossas opiniões e argumentos. Ela tinha paciência de nos ouvir, não para nos contradizer, mas para entender nossos pontos de vista. Em seguida, apresentava novos argumentos que nos faziam refletir. Ao final, alguns pontos de divergência eram desfeitos e, quando menos esperávamos, já concordávamos com ela. As demais divergências eram acolhidas com respeito e com a sabedoria de quem sabe aguardar para que tiremos as nossas próprias conclusões ou de quem está disposta a também aprender com os estudantes, afinal os professores não são donos da verdade.

 

Solange nos ajudou a construir a nossa identidade como educadores. Pelo perfil dos demais professores do então Departamento de Educação Física (EDF), era fácil perceber como determinadas discussões teóricas sobre a educação somente seriam possíveis a partir da iniciativa e da liderança que ela exercia sobre nós. Esse era o seu diferencial. Com outros professores, aprendemos sobre fisiologia, sobre administração, sobre história, sobre dança e sobre esportes, mas sobre educação física escolar, esse era um assunto para a Solange e para a Laura (responsável pelas disciplinas de Ginástica e de Psicomotricidade), que, além de serem muito amigas, guardavam cumplicidade acadêmica.

 

Solange fez parte do grupo de professores da Universidade de Brasília (UnB) que foi pioneiro na busca pela capacitação na pós-graduação, dedicando-se, no mestrado realizado na Universidade de São Paulo (USP), ao estudo da Aprendizagem Motora, área que gerou impacto sobre o ensino da Educação Física a partir da teoria do processamento de informações e do controle motor. Ao mesmo tempo em que estava em sintonia com as modificações acadêmicas, também se dedicou à gestão universitária ao assumir a chefia do EDF. Creio que temos que conversar com ela sobre as barreiras que, com certeza, teve que superar para alcançar essas posições de destaque no meio universitário.

 

Ao se aposentar da UnB, Solange continuou envolvida com a formação de professores de Educação Física e deixou a sua contribuição em faculdades particulares que recorreram à sua experiência e a seus conhecimentos para o auxílio na construção do currículo e para a coordenação de novos cursos de graduação em Educação Física.

 

Ao ser recebido pela Solange em sua casa para realizar a entrevista para o Centro de Memória, revivi as lembrança das confraternizações entre os amigos da UnB que ela e o Prof. William Passos tinham prazer em nos proporcionar, o que me fez refletir sobre tudo que temos em comum: amigos que compartilhamos, recordações do que vivemos, sonhos que nos esforçamos para que se tornassem realidade, conhecimentos com os quais nos identificamos e admiração recíproca.

 

Fiquei feliz em poder contribuir para o registro, mas, principalmente, para o reconhecimento da valiosa contribuição desses professores pioneiros da Educação Física da UnB. Dentre eles, a Prof.ª Solange de Cássia Elias Passos, com certeza, é uma das protagonistas. Precisamos dar o devido destaque ao legado intangível que nos deixaram.